sábado, 14 de julho de 2018

Uma experiência eléCtrica


Finalmente, a comunhão plena com a natureza:
Zero litros aos 100, Zero gramas de CO2, Zero emissões, 100% Elétrico.

É definitivamente uma experiência única apenas ouvir o som envolvente da natureza. Apenas um pequeno zumbido do motor se mistura neste cenário, mas que encaixa perfeitamente com o som dos pássaros e das árvores.

E quando é preciso acelerar, ele responde, e responde bem. Muito bem mesmo.
Fácil de conduzir... apenas uma mudança, um selector para escolher para a frente ou para trás, e apenas dois pedais: o acelerador e o travão, e este último apenas é necessário em casos de grande necessidade, pois só o desacelerar já o faz abrandar bastante. Se não andar colado aos veículos da frente, e prever as paragens ou desacelerações com antecedência, raramente precisa de ser premido. E a grande vantagem deste comportamento, é a de que, enquanto desacelera, regenera energia de volta para a bateria, acrescentando autonomia.

Tive de reaprender a conduzir sem caixa de velocidades, mas foi uma adaptação muito rápida, quase automática já no segundo dia. Uma vez que não há mudanças, também não nos lembra a necessidade de carregar na embraiagem. Por vezes, quando quase parava, de forma instintiva, levava a mão para o selector, mas lá me lembrava que não havia mudanças, e, por isso, também não era necessário nenhuma embraiagem. Uma semana depois a conduzir assim, o perigoso mesmo, foi voltar a pegar num carro a combustão, e quase me esquecia de carregar na embraiagem para meter a primeira e arrancar. Irónico, não?

Parece um veículo frágil, mas são apenas aparências mesmo. O ser estreito e com aquele design de "ovo" ajuda imenso na aerodinâmica, e o facto das rodas da frente serem muito finas, ajuda ainda mais para reduzir o atrito no rolamento. Quanto à estabilidade, muito estável, até porque o facto das baterias estarem localizadas na base do veículo, baixa consideravelmente o centro de massa, conferindo-lhe estabilidade.
Quanto a conforto, para os passageiros há muito espaço e acomoda bem 4 pessoas. Apenas a bagagem pode ser considerada muito pequena, sendo necessário rebater os bancos traseiros, perdendo assim dois lugares, para ganhar mais espaço.
Uma abertura à frente que dá acesso aos depósitos de manutenção e à bateria de 12V, e atrás está o motor fazendo tracção às rodas traseiras.

E agora é mesmo só desfrutar. Carregar no acelerador e andar, sem fumos e sem pesos de consciência. Apenas o prazer aliado a uma consciência de futuro, que ainda por cima, sai mais barato para a carteira, pois não há peças móveis, não há filtros de partículas ou do óleo e do combustível, não há mudanças de óleo, não há embraiagem ou volantes de bi-massa, não há válculas EGR, não há velas para trocar, etc, etc.

Estas são as grandes vantagens de conduzir um eléctrico:

  • Manutenção muito barata, com um motor que dura mais do que o próprio carro.
  • Acabam-se as idas aos postos de combustível, excepto talvez, para verificar a pressão dos pneus. Apenas electricidade é usada, e fica a carregar durante a noite enquanto se descansa. Pode parecer pouco, mas é menos uma preocupação e um desvio para abastecer.
  • Electricidade muito mais barata do que a gasolina ou o gasóleo: para cada 100km gasta-se apenas 2,5€ em tarifa simples, ou 1,5€ em tarifa bi-horária, contra os 6,5€ do gasóleo ou 10€ da gasolina.
  • Muito mais eficiente - 90% contra 30% dos ICEs -, pelo que, mesmo que a electricidade venha de centrais térmicas a carvão ou petróleo, continua a ser mais eficiente, além que a poluição fica na central e não vai para a cidade onde o carro circula. Além disso, não precisa de trocar de carro para se ser mais limpo... vai acompanhando a evolução das centrais de produção de energia.
  • Isenção no imposto automóvel, e no IUC. Acrescenta-se também o incentivo do estado para os primeiros 1000 veículos vendidos de 2.250€ (isto em 2018).
  • Os postos públicos de carregamento continuam a ser gratuitos.
  • Uma comunidade de utilizadores próxima que se apoiam uns aos outros.

Mas, nem tudo são rosas, e ainda existem algumas limitações, nomeadamente:
  • Autonomias mais reduzidas que os veículos a combustão, muito embora isto não seja muito verdade, pois na realidade concreta do dia a dia a maioria dos condutores conduz menos de 100 km por dia, e essa autonomia todos os VEs disponibilizam. Além disso, os mais recentes já oferecem autonomias superiores a 200 km, chegando alguns já aos 300, pelo que esta limitação não faz já muito sentido para o condutor "normal".
  • Tempos de carregamento elevados: mais uma vez é preciso colocar-nos na perspectiva do condutor normal que raramente precisa de mais de 100 km num dia, pois quando chega a noite liga à tomada, e na manhã seguinte tem outra vez o "depósito" cheio. Contudo, já existem actualmente soluções de Wallboxes montadas em casa que permitem carregar o veículo em apenas algumas horas, além que começam a estar disponíveis um pouco por todo o país, postos de carregamento rápido (PCR) que carregam o carro em cerca de 30 minutos, enquanto vai à casa de banho e toma um café.
  • Por vezes é preciso esperar no PCR que um veículo saia e disponibilize uma tomada, podendo vir a esperar 30 minutos a 1 hora. Em primeiro lugar, não é suposto usar um PCR na mesma medida que um ICE utiliza uma bomba de combustível. No dia a dia, o eléctrico carrega na garagem em casa, e só naquelas meia dúzia de situações num ano em que precisa de fazer uma viagem mais longa, é que vai precisar do PCR. Por isso, é preciso sempre colocarmo-nos na perspectiva correcta.
  • A bateria degrada-se e é necessário trocá-la ao fim de algum tempo, e elas custam uma fortuna: estamos a falar de baterias especialmente desenhadas para carros, com protecções adicionais, que bem cuidadas podem chegar aos 10 anos de idade sem uma degradação considerável. Embora caras actualmente, esta é uma realidade que tende a mudar ao longo do tempo. Basta pensar que as baterias de lítio custavam 1000 dólares por cada Kwh em 2010, e actualmente em 2018, já estão abaixo dos $200. Como será daqui a 8 anos?... Fica a pergunta.
  • Finalmente, e esta sim, considero ser uma grande limitação, é o elevado preço dos carros eléctricos novos. Mesmo, tendo uma mecânica muito mais simples, são produzidos em pequenas quantidades, e ainda é preciso compensar anos de investimento e investigação. Contudo, esta é uma limitação que tenderá a amenizar-se com o tempo, à medida que estes veículos se forem massificando. E mesmo para os mais apressados e com menos posses, já começa a haver um mercado de usados muito interessante que vale a pena explorar.
Por isso, resumindo, para o condutor regular que em média faz menos de 100 km por dia, ou 250 km para os modelos mais recentes, estas limitações não se aplicam sequer. Apenas é necessário ter algum cuidado no planeamento das viagens de longo curso, pois é necessário verificar com antecedência que terá postos de carregamento funcionais ao longo do percurso e prever eventuais tempos de espera no processo de carregamento. No entanto estas são situações esporádicas, e poderá sempre considerar a opção de alugar um veículo térmico para esses dias particulares, pois mesmo assim ficará muito mais barato do que andar com ele durante todo o ano.

E agora, toca a acelerar em silêncio!
Até breve.

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