Note-se a forma como coloco esta questão: não se trata tanto de quando a bateria deixa de funcionar, mas quando a sua autonomia deixa de ser útil!
Isto, porque existem duas grandes razões para uma bateria deixar de poder ser utilizada:
- A situação mais normal é ela ir perdendo gradualmente capacidade ao longo do tempo, e eventualmente chegará o dia em que a capacidade restante deixa de ser sufciente para as viagens do dia-a-dia. Isto não impede que o veículo possa continuar a ser utilizado para outras viagens mais curtas, e assim prolongar a sua utilização por mais alguns anos.
- A outra situação, que é mais rara, corresponde a um evento de avaria de uma das células. Se estivermos a falar de uma arquitectura em que todas as células de uma bateria estão ligadas em série, uma das grandes desvantagens deste esquema é que basta uma célula começar a "morrer" prematuramente para toda a bateria ficar inutilizável. Aqui o cerne do problema é que não existe redundância na ligação entre células, e basta uma começar a falhar para a cadeia de ligações ser interrompida. Esta é uma arquitectura muito comum com células prismáticas (paralelepipédicas do tamanho de um livro) em que a capacidade de corrente em Ah é suficientemente generosa - é o caso dos tripletos I-Miev/Ion/C0 e Nissan Leaf. Existe outra arquitectura diferente que algumas marcas adoptam: quando cada célula tem uma capacidade de corrente muito baixa (Ah) é necessário um esquema misto em que estão simultaneamente ligadas em série (soma a tensão) e em paralelo (soma a corrente), e neste caso a falha de uma das células apenas compromete a capacidade total, mas não interrompe a cadeia entre células, pois a ligação em paralelo garante a redundância para evitar avarias críticas. Esta arquitectura é muito comum com células cilíndricas ou do tipo pouch - Tesla ou Chevrolet Bolt.

Células prismáticas utilizadas no Citroen C0

Células cilíndricas (18x65 mm) - utilizadas pela Tesla.
Células pouch
Na primeira situação é sempre possível optar pela reutilização, seja utilizando-o para outras viagens mais pequenas, ou vendendo o carro para outro condutor.
Quanto à segunda situação, estará sempre coberta pela garantia (normalmente 8 anos, ou 10 anos nalgumas marcas como a Lexus), mas será sempre possível trocar apenas a(s) células(s) defeituosas e resolver o problema. Nunca é necessário que a bateria vá para o "lixo" por causa deste problema.
É óbvio que as marcas que vendem carros elétricos oferecem este serviço de reparação, mas felizmente já começam a surgir oficinas independentes capazes de fazer o mesmo por preços mais atrativos.
Contudo, chegará sempre o dia em que já não é possível reutilizar a bateria para condução, e aqui existem duas alternativas possíveis:
- Dar uma segunda vida: continuar o ciclo de reutilização, desta vez utilizando-a para outros fins que não num automóvel. Mesmo com degradação severa, estas baterias continuam a ser muito úteis em bancos acumuladores de energia em soluções de auto-consumo em casa, ligadas à produção de energia com painéis solares ou pás eólicas.
- Ou entregando-as para reciclagem.
A reutilização em soluções de auto-consumo requerem sempre algum apoio técnico especializado, pois estamos a falar de remover uma bateria que pode pesar 500Kg de uma caixa de aço que a protege contra acidentes, e movê-la para um local próprio em casa.
Quanto à reciclagem, este é um mercado ainda muito pouco desenvolvido, essencialmente porque o mercado dos veículos eléctricos ainda é muito recente, e tendo em conta que a maioria das baterias dura potencialmente pelo menos 10 anos, e estamos a falar de um mercado que começou timidamente em 2010 e só agora em 2020 começa a florescer, não há quantidade suficiente que torne este negócio rentável. Contudo, em 2030 a realidade será bem diferente e não há razão nenhuma que muitas empresas não aproveitem esta oportunidade de negócio para tirar lucro.
Entretanto até lá, vão-se desenvolvendo as tecnologias e as técnicas necessárias para reciclar a totalidade da bateria, mas enquanto que até há alguns anos apenas o cobalto e o níquel era reciclado aproveitando-se apenas 50-60% da bateria, hoje já possível reciclar também o lítio e a grafite, chegando-se aos 90-95% de reciclagem útil. Mesmo hoje, já começam a aparecer empresas com a capacidade técnica de reciclar a totalidade da bateria.
A realidade da reciclagem em 2019
Como a BMW recicla as suas baterias e outros materiais do i3
Mas resumindo, a reciclagem deve ser apenas o último recurso a ser aplicado numa bateria, pois antes de chegar a esse ponto é sempre possível fazer a sua reutilização, ao ponto de a fazer durar até 20 anos:
- Seja resolvendo eventuais avarias pela troca individual de células;
- Continuando a usar a bateria em viagens mais pequenas quando a degradação começa a ser mais acentuada;
- Dando uma segunda vida em soluções de auto-consumo ou onde seja necessário acumular energia.
Referências:
Sem comentários:
Enviar um comentário